Trump e as Mudanças Globais desde sua Presidência
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Trump e as Mudanças Globais desde sua Presidência

Publicado em 30 de novembro de 2024 às 09:00

Donald Trump, o controverso ex-presidente dos Estados Unidos, deixou a Casa Branca há quase quatro anos, mas a autoconfiança parece continuar intacta. A pergunta que fica no ar é: o que teria mudado tanto nesse tempo? Sabendo do histórico de Trump, podemos imaginar seu pensamento: "Eu dou conta!"

Recentemente, estive em Tel Aviv, passei por uma conferência nos Emirados Árabes Unidos e me aprofundei com a equipe de inteligência artificial DeepMind em Londres. E, ao que parece, o presidente eleito pode se beneficiar de um famoso aforismo: "Há décadas em que nada acontece, e há semanas em que décadas acontecem." O que presenciei sugere que estamos próximos de uma mudança crucial nas dinâmicas de poder no Oriente Médio.

Um movimento tectônico na geopolítica

Nos últimos meses, o Exército israelense deu um golpe avassalador no Irã —em uma escala comparável à derrota do Egito, da Síria e da Jordânia durante a Guerra dos Seis Dias em 1967. Vamos às evidências: ao longo das décadas, o Irã criou uma vasta rede de ameaças que parecia asfixiar Israel. Era amplamente aceito que os israelenses estavam presos, sem poder atacar as instalações nucleares iranianas, devido ao arsenal de foguetes de precisão que o Hezbollah havia acumulado.

No entanto, os ventos mudaram. O Mossad e a Unidade 8200 de Israel, a principal agência de inteligência, descobriram formas inovadoras de neutralizar esses desafios. Com operações que colocaram dispositivos explosivos em equipamentos críticos usados pelos líderes militares do Hezbollah, Israel não apenas localizou, mas destruiu sistemas de armazenamento de mísseis em solo libanês e sírio —resultando em um cessar-fogo de 60 dias, mediado pelo americano Amos Hochstein. Uma nova realidade se desenha.

Para entender a magnitude desse cessar-fogo, é preciso recordar que é a primeira vez desde 8 de outubro de 2023, após a invasão do Hamas, que as ações entre Israel e Hezbollah se desaceleram. O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, afirma que estamos testemunhando um momento de vulnerabilidade sem precedentes do Irã, que agora se vê pressionado a revisar suas políticas e até mesmo a entrar em negociações sobre seu programa nuclear.

Caminhos complicados para Biden e Trump

Contudo, essa nova fase não vem sem controvérsias. Joe Biden, ex-presidente dos Estados Unidos, criticou os mandados de prisão do Tribunal Penal Internacional contra Netanyahu e seu ex-ministro da Defesa, Yoav Gallant, acusados de crimes de guerra durante os confrontos em Gaza. Para muitos críticos, o TPI revela uma hipocrisia —pois ao mesmo tempo que processa líderes israelenses, falha em acusar o regime de Bashar al-Assad, da Síria, pelos horrores cometidos contra seu próprio povo.

A situação atual em Gaza é um campo minado ético e político. Netanyahu, sob pressão de extremistas de direita, toma medidas cada vez mais drásticas e controvertidas, o que gera um ciclo de destruição que propaga a violência em vez de promover a paz. Isso gera uma situação crítica para Trump, que agora se vê diante de um novo Irã e de um novo Israel, onde sua postura e escolhas terão um impacto real no futuro da região.

Desafios da inteligência artificial

Além das tensões no Oriente Médio, Trump enfrentará outro desafio emergente: a inteligência artificial (IA). O conceito de inteligência geral artificial (AGI), antes algo reservado à ficção científica, está rapidamente se materializando. A AGI promete transformar a forma como a sociedade opera, mas também traz riscos imensos.

Os impactos da IA se estenderão não apenas a empregos, mas também à segurança global. Se mal administrada, essa tecnologia pode desencadear consequências catastróficas. Para Trump, seu legado não será medido apenas por tarifas comerciais, mas pela maneira como maneja essas questões cruciais de ética e regulamentação envolvendo a IA.

Portanto, tanto no contexto geopolítico quanto no tecnológico, o retorno de Trump ao poder o apresenta a um cenário complexo, onde suas decisões terão repercussões profundas —não apenas para os Estados Unidos, mas para o mundo inteiro.

Folha de São Paulo