Fatores que Impediram Golpe em 2022
Publicado em 30 de novembro de 2024 às 09:42
A tentativa de golpe para manter Jair Bolsonaro no poder, que circulou em meio à pressão política e social, encontrou barreiras significativas que impediram sua materialização. Um relatório final da Polícia Federal (PF) revelou cinco fatores principais que explicam por que essas manobras não foram bem-sucedidas. E, acredite, a recusa de líderes militares em se envolver na conspiração foi apenas o primeiro entre eles.
1. Faltou apoio da sociedade civil e das elites
Adriana Marques, pesquisadora da UFRJ, destaca que a ausência de um respaldo forte da sociedade civil foi um dos principais ingredientes que desmobilizou as forças golpistas. “O apoio massivo a favor da democracia, liderado por professores e juristas, foi crucial para inibir qualquer tentativa de ruptura”, explica a especialista.
Além disso, manifestações como a “Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito”, que mobilizou mais de 1 milhão de assinaturas, mostraram que a democracia tinha uma base sólida de apoio, inclusive de figuras influentes e de todo o espectro político.
2. Pressão internacional contra uma ruptura democrática
Ao contrário de 1964, quando os EUA apoiaram o golpe militar, o governo Biden demonstrou que não aceitaria qualquer movimento que tentasse subverter o resultado das urnas em 2022. A atenção dos Estados Unidos ao processo eleitoral foi crítica, e advertências sobre as consequências de uma eventual usurpação do poder foram transmitidas a Bolsonaro e seus aliados.
Essa pressão internacional foi amplificada por outros países que rapidamente reconheceram a vitória de Lula, reduzindo ainda mais o espaço para qualquer tipo de manobra antidemocrática.
3. Atores institucionais e classe política entraram em ação
O papel das instituições foi essencial. Como explica Claudio Couto, da FGV, o Judiciário não só se opôs às tentativas golpistas, mas também mostrou uma tolerância zero para quaisquer aventuras autoritárias. A resposta rápida de figuras políticas, como o presidente da Câmara, Arthur Lira, que reconheceu a vitória de Lula, ajudou a sinalizar firmeza e coesão política.
4. Faltou apoio entre militares
Os altos comandantes das Forças Armadas, como o general Marco Antonio Freire Gomes e o tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior, permaneceram afastados do golpe, temendo que a ação não tivesse a sustentação necessária da sociedade civil e da política. “Serão 20 dias de euforia para 20 anos de agonia”, disse Freire Gomes em resposta às pressões, refletindo temores sobre as consequências de um regime sem respaldo popular.
5. O golpe de Estado clássico saiu de moda
O cientista político Leonardo Avritzer observa que o modelo clássico de golpe de Estado passou a ser menos comum. Os golpes tradicionais, em que as forças armadas depõem um governo de maneira abrupta, não são mais as únicas formas de ruptura. Agora, mudanças mais graduais na democracia, muitas vezes cobrindo-se com uma fachada de legitimidade, tornaram-se o caminho mais usual.
Assim, o fracasso da tentativa de golpe de 2022 não foi apenas uma vitória da democracia brasileira, mas também um reflexo de novas dinâmicas sociais, políticas e internacionais que tornam a ruptura do regime muito mais desafiadora. A história recente nos mostrou que, apesar de todos os esforços, os tentáculos da democracia podem ser mais firmes do que se imagina.