Excesso de telas pode simular sintomas de autismo em crianças
Publicado em 11 de janeiro de 2025 às 09:58
As telas estão se tornando um verdadeiro problemão na vida das crianças. Quem diria que uma simples distração poderia trazer tanto desconforto? Nadia David Peres, uma médica de 45 anos, encontrou nas tecnologias um caminho para entreter seu filho Breno, hoje com três anos, durante seu expediente frenético. A história dela pode refletir uma realidade vivida por muitos pais.
Fazendo atendimentos à distância, Nadia deixou o pequeno Breno, em média, seis horas por dia na frente de tablets e celulares. "Era a única maneira de conseguir trabalhar sem crise", conta. Mas o que parecia a solução para evitar o choro do filho virou um problema inesperado quando ela recebeu uma carta da escola, que apontou comportamentos preocupantes que lembravam os sintomas do autismo.
Entre as atitudes que chamaram atenção estavam a falta de contato visual, agressividade e crises de birra. "Já estava percebendo esses sinais em casa, mas a carta me fez agir", disse Nadia, que decidiu buscar ajuda profissional. Uma neuropediatra logo constatou que a exposição excessiva às telas estava afetando o desenvolvimento de Breno.
Mudanças trazem resultados surpreendentes
A família tomou a valente decisão de cortar todas as telas. E a transformação foi incrível. Em apenas duas semanas, Breno começou a se comportar de maneira mais tranquila, interagiu mais com os colegas e até sua alimentação melhorou. "Nós não tínhamos ideia do quão prejudiciais aquelas horas em frente às telas poderiam ser", admite Nadia, agora feliz por observar seu filho mais alegre e ativo.
Histórias como a de Nadia estão longe de serem isoladas. No podcast "Mil e Uma Tretas", a atriz Thaila Ayala compartilhou uma experiência semelhante com seu filho, Francisco. Após limitar o tempo de tela, ela também percebeu mudanças positivas em seu comportamento. Essa conexão entre telas e desenvolvimento infantil tem gerado uma série de discussões entre especialistas.
O impacto das telas no desenvolvimento infantil
Mas o que realmente está acontecendo? Especialistas consultados concordam: o uso excessivo de dispositivos eletrônicos pode, sim, trazer sérios impactos no comportamento dos pequenos. Segundo o neuropediatra Anderson Nitsche, a dificuldade de socialização e comportamentos repetitivos são comuns em crianças que passam muito tempo em frente a telas.
A psicóloga Mayra Gaiato também ressalta que o uso exagerado de dispositivos pode afetar o desenvolvimento social e emocional das crianças, mas não causa autismo diretamente. "As crianças que ficam horas expostas ao conteúdo audiovisual podem desenvolver dificuldades de interação social e comportamentos viciantes", afirma.
O que dizem as pesquisas?
A relação entre o uso prolongado de telas e o desenvolvimento de padrões de comportamento semelhantes ao autismo é uma área emergente de estudo. Um recente estudo na Califórnia percebeu que adolescentes que estiveram sem contato com telas durante um acampamento mostraram habilidades sociais significativamente melhores do que aqueles que não se afastaram dos dispositivos.
As orientações de entidades como a Academia Americana de Pediatria são claras: até os 18 meses, deve-se evitar qualquer tipo de tela, exceto videochamadas supervisionadas. A partir daí, a introdução gradual e controlada é recomendada, com duração máxima de uma hora por dia entre 2 e 5 anos.
Buscando um equilíbrio
Mas como lidar com essa realidade em tempos onde a tecnologia é quase onipresente? O primeiro passo, segundo os especialistas, é dar o exemplo. Pais devem monitorar o próprio uso de telas e estabelecer regras claras para as crianças. Criar uma rotina que equilibre o uso de tecnologia com atividades interativas e familiares é essencial para o desenvolvimento saudável.
Apesar dos desafios, é possível cultivar uma relação mais saudável com as telas. Conversas sobre o que foi assistido e a participação ativa dos pais podem enriquecer a experiência das crianças e garantir que elas estejam aproveitando o melhor que a tecnologia pode oferecer, sem esquecer da importância das interações reais.
A história de Nadia e Breno é apenas mais um exemplo do que muitos pais estão enfrentando. Em um mundo digital, a chave parece estar em saber equilibrar o tempo de tela e garantir que as crianças tenham as melhores oportunidades de aprendizado e socialização. Que comece a desconexão saudável!