IMC Não Deve Ser Critério Único para Saúde
Publicado em 15 de janeiro de 2025 às 22:56
Nos últimos tempos, uma conversa que ganha cada vez mais espaço entre os profissionais de saúde é a consideração da obesidade como uma doença. Porém, em saúde pública, é importante ter cuidado com generalizações. O critério mais comum para definir a obesidade é o IMC (Índice de Massa Corporal), que é calculado dividindo o peso pela altura ao quadrado.
Classificamos como obesas aquelas pessoas com IMC igual ou superior a 30, o que compreende um grupo imensamente diverso. Desde indivíduos com obesidade grau um (IMC entre 30 e 35) até aqueles com obesidade grave (IMC superior a 40), onde alguns podem chegar a pesar impressionantes 200 quilos. Isso significa que, se rotularmos todos dentro dessa faixa de IMC como doentes, estaremos incluindo cerca de 20% da população brasileira e 40% dos americanos. À medida que essa abordagem se populariza, o conceito de estar saudável poderia se tornar um privilégio de poucos.
Utilizar o IMC como critério único para separar os saudáveis dos doentes pode ser um verdadeiro equívoco. O IMC não considera fatores importantes como a estrutura óssea e muscular. Por exemplo, pessoas com ossos mais robustos ou com um físico atlético podem ter IMCs mais elevados e ainda assim estar totalmente saudáveis. Além disso, medidas como a circunferência abdominal estão se tornando cada vez mais relevantes para entender o risco cardiovascular.
Outro ponto a se considerar é a atividade física. Indivíduos magros mas sedentários têm uma expectativa de vida mais baixa do que aqueles com sobrepeso que realizam exercícios regularmente. É comum ver corredores mais corpulentos em maratonas; faz sentido rotulá-los como doentes apenas por conta do peso?
É verdade que a obesidade está associada a uma série de problemas de saúde, como hipertensão, diabetes, e diversas complicações cardiovasculares. Contudo, devemos questionar se é justo classificar a obesidade como uma condição médica para aqueles que não apresentam nenhuma dessas complicações.
Obesidade é, sem dúvida, um fator de risco, mas não devemos tratá-la — nem outros fatores como pressão alta ou glicose elevada, na ausência de sintomas — como estados mórbidos. Essa prática pode ser vista como preconceituosa e discriminatória, colocando pessoas saudáveis na mesma categoria que doentes.
É interessante notar que pessoas infectadas pelo HIV, por exemplo, podem viver por anos sem apresentar sintomas e ainda assim, enquanto assintomáticas, são consideradas saudáveis. Apenas com a instalação de infecções oportunistas é que essa condição muda.
Por isso, podemos nos questionar: podemos classificar como doente alguém com pressão arterial de 15 por 10 ou glicemia de 160, sem qualquer sintoma?
Nesses casos, essas condições são fatores de risco, não doenças. Uma mulher ou um homem com pressão alta ou glicemia elevada, mas que não apresenta sintomas, não deve ser rotulado como doente. Você deve estar pensando que essa distinção é apenas uma questão de palavras, mas você estaria enganado.
Imaginem o seguinte cenário: um homem de 45 anos, que ganhou 20 quilos, chega ao consultório. Sua pressão está em 15 por 10 e a glicemia, 150. Se considerarmos que ele é hipertenso e diabético, acabamos de diagnosticar duas doenças crônicas. Ele sai da consulta com receitas que deverá seguir para o resto da vida, enquanto o outro cenário — onde ele ainda não está doente, mas sim em uma condição de risco — permitiria uma abordagem que foca em mudanças positivas de estilo de vida.
Se o médico acreditar que ele ainda pode evitar doenças ao perder peso e melhorar seus hábitos, há uma chance real de transformação. E, para aqueles céticos, lembrem-se: existem, sim, pessoas que mudam seu estilo de vida e conseguem evitar consequências graves. Portanto, vale a pena investir nessa esperança!